O termo ESG, acrônimo derivado da expressão em inglês Environmental, Social and Governance, ou em português, “Ambiental, social e Governança”, se popularizou a partir das fragilidades sistêmicas expostas pela pandemia global da covid-19, mas a sigla surgiu oficialmente em 2004, por meio da iniciativa “Who Cares Wins”[1] (ou, em português, “Ganha quem se Importa’’), do secretário-geral da ONU e do Pacto Global da ONU, com apoio do governo suíço. De 2004 a 2008, foram realizados uma série de eventos para profissionais de investimento, com o objetivo de aumentar a compreensão dos riscos e oportunidades ESG, e melhorar a integração ESG na decisão de investimento. Cada encontro considerou um elemento particular de integração ESG, apoiado na interface entre investidores e empresas, com atenção particular às questões ESG em investimentos de mercados emergentes.
Essas ações serviram de base para a criação, em 2006, dos Princípios do Investimento Responsável (PRI), iniciativa da UNEP Finance Initiative e UN Global Compact, que solicita aos signatários, investidores institucionais (fundos de pensão públicos e privados), que desdobrem as diretrizes do PRI e integrem temas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) nas análises e decisões de investimento e propriedade de ativos. O PRI chega ao final de 2021 com mais de 3.800 signatários com ativos sob gestão que ultrapassam USD 120 trilhões.[2]
Em termos simplificados, a sigla ESG resume a proposta de que um negócio deve ser avaliado não só pelos critérios e indicadores usuais do mercado, como rentabilidade, participação em mercados de atuação, solidez, níveis de endividamento etc, mas também pelos seus atributos ambientais, sociais e de governança corporativa. São dois principais argumentos: fatores ambientais, sociais e de governança do contexto externo mais amplo das empresas (nacionalmente e globalmente) se tornaram enormes fatores/(agentes ou motivo) de riscos para os negócios, e daí decorre a necessidade e urgência de incorporá-los nas estratégias de mitigação de riscos e criação de valor a longo prazo, capturando também as oportunidades relacionadas ao contexto. E segundo lugar, as pressões dos diversos atores sociais (acionistas, reguladores, consumidores e clientes, comunidades, sociedade) para que a empresa atenda a um conjunto de expectativas mais amplas, revisitando seu propósito organizacional.
Referente ao primeiro argumento, a edição 2020 do estudo The Global Risks Report[3], produzido pelo Fórum Econômico Mundial, apontou, pela primeira vez, que 75% dos riscos de maior probabilidade e impacto potencial estão relacionados ao meio ambiente: eventos climáticos extremos, falha na ação climática, perda de biodiversidade, desastres ambientais causados por ação humana. Já em 2021, na 16ª edição do relatório, além dos riscos ambientais, aparecem temas como ciber segurança, desigualdade digital, concentração do poder digital, e crises relacionadas aos meios de subsistência. O objetivo do estudo é gerar reflexão e explorar como os países e empresas podem agir diante desses riscos.
O estudo “Sustainability and Reporting Trends in 2025 – Preparing for the Future”[4] diz que os temas externos ao mundo dos negócios que mais vão impactar o contexto das empresas nos próximos anos são: escassez de materiais primários, redução de resíduos e da contaminação dos ecossistemas, gestão de conflitos sociais e migração, proteção dos direitos humanos, novas crises éticas e de reputação e reeducação dos trabalhadores para novos setores com o advento da nova revolução industrial (indústria 4.0). ESG é sobre essa nova agenda de riscos corporativos. Neste caso, é sobre como a perspectiva “de fora para dentro” afeta os negócios por meio de uma agenda de gestão de riscos, adaptação e resiliência. E de “dentro para fora”, como a empresa gerencia suas externalidades e busca minimizar seus impactos negativos na sociedade.
Texto de Mariana Kohler
[1] The Global Compact (2004): Who Cares Wins. Executive Summary, pp. i-v. https://www.unglobalcompact.org/docs/issues_ doc/Financial_markets/who_cares_who_wins.pdf
[2] Principles of Responsible Investment/ Princípios do Investimento Responsável – Fonte: https://www.unpri.org/
[3] The Global Risks 2020 – Publicação disponível em: https://www.weforum.org/reports/the-global-risks-report-2020
The Global Risks 2021- Publicação disponível em:https://www.weforum.org/reports/the-global-risks-report-2021
[4] Publicação disponível em https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/Sustainability-and-Reporting-Trends-in-2025-1.pdf